O ÁLBUM DE UM AMIGO QUE NEM VEMOS
Maria João Brito de Sousa
Pode suceder-nos, vez por outra, encontrar o álbum de um amigo que nem vemos. Exultamos e folheamo-lo cuidadosamente, mantendo, em cada imagem, a lupa da atenção focada nos detalhes, nas feições, na luminosidade dos sorrisos, no percurso mais ou menos vincado das rugas, na rebeldia com que os mais jovens tentam afirmar-se únicos ou na teimosia com que os menos jovens desdenham evidenciar que o são. No denominador comum que transparece e, invariavelmente, nos vai contagiando.
Procura-se, no desdobrar de cada traço, aquela centelhazinha da luminosa alegria que acompanha o esperado/inesperado reconhecimento de um parente próximo ou do último camarada que sonharíamos encontrar e não desistimos até ao por-de-imagem do derradeiro desconhecido. A familiaridade longínqua da cor e do movimento transporta-nos a um chão que há muito não pisamos e uma vontade, única porque absolutamente involuntária, coloca-nos naquele mesmíssimo palco, deslocados no tempo e no espaço, como soldadinhos “chumbados” pela adversidade das circunstâncias mas surpreendidos – nós próprios, surpreendidos! - por nos não sentirmos “a mais” nem, em última instância, injustificados por termos estado “a menos”.
É sempre uma imensa festa, revisitar a Festa através do álbum de um amigo que nem vemos!
Maria João Brito de Sousa – 10.09.2013