TRATADO DAS PEQUENÍSSIMAS TRAGÉDIAS E JÚBILOS
Maria João Brito de Sousa
Imaginem que o vosso corpo, de repente, se transforma numa massa de… de P.V.C.! Não que não andasse, há uns dias, a dar os seus sinais… ele era o endurecimento das articulações, ele era a falta de destreza e a dificuldade em andar, ele era a lentidão e os desequilíbrios… enfim, nada que não estivéssemos já habituados a aturar, de tempos a tempos. Mas, naquele dia, era puro P.V.C.! Ficou assim, rijo e sem préstimo, entre a hora do almoço e as 16.30h.
Ainda se davam uns passos, claro está, mas não havia fluidez nem harmonia. Eram passos arrancados do fundo da alma e da força de vontade como se a fisiologia se tivesse demitido das suas funções habituais. Conseguem, mesmo, imaginar? Pois é exactamente assim que me estou a sentir. Vai dando para teclar, mas até falar me custa… se não soubesse que isto é, muito provavelmente, uma estranhíssima somatização, juraria que estava com Botulismo, apanhado naquele frasquinho de doce de abóbora que devorei, inteirinho, há uns dias. Bem… para ser Botulismo ainda me faltam as alucinações. Nada. Nem a luz me parece mais brilhante do que o habitual…
De uma coisa estou mais do que segura; se fizesse, agora, um Ionograma, os valores viriam completamente desequilibrados e deficitários. Mas por que razão é que o meu organismo se “esquece” de metabolizar convenientemente os iões de que necessita? Ferrugem? Há tanta gente na casa dos 80 que ainda não tem esse problema e eu, caramba!, ainda estou na dos 50. Nada que assuste ninguém, digo eu… mas a verdade é que o raio do meu organismo sempre foi muito distónico nesta coisa da recolha e colocação dos iões de cálcio, potássio, cloro e magnésio nos sítios onde eles são, efectivamente, necessários. Porcaria de organismo este!
Em compensação, faço sonetos… já não é mau de todo. Enquanto os estou a fazer, nem me lembro de que me custa a andar, de que estou com cãibras, de que me falha a destreza manual… não se pode ter tudo e, se me dessem a escolher entre o conforto físico e a Poesia, eu escolheria esta última. Não vou dizer que fosse uma escolha fácil. Nada disso! A Biologia tem uma força inimaginável e eu teria as minhas hesitações mais do que legítimas. Mas acabaria por escolher a Poesia. Poeta pode sobreviver à miséria, à doença, ao desconforto… pode sobreviver a tudo, tudo… menos à falta de inspiração.
Poeta é Poeta!
Maria João Brito de Sousa – 10.12.2010 – 18.34h