CRONICAZINHA DE UMA PASSAGEM DE ANO - 2010/2011
Maria João Brito de Sousa
Gostaria de poder dizer-vos que sou uma mulher infeliz porque o meu elevador se avariou nesta noite de passagem de ano. Talvez me acreditassem e ficassem solidários com o facto de eu não conseguir descer e subir os quatro andares com o Kico ao colo, a coluna avariada e o rim que me não pára de massacrar. Talvez… mas a verdade é que a minha ideia de felicidade se não prende com esse tipo de coisas e se não esgota nos azares do momento. Em compensação, posso perfeitamente afirmar que sou, mais uma vez, uma “mulher-feliz-lixada”. Muito feliz e muito lixada, apesar de ter jantado uma latinha de atum com arroz cozido – um luxo só para os dias especiais… - e duas rabanadazinhas do Pingo Doce que me custaram 1.50 euros. O que me custou mesmo muito, muito mais, foi subir os quatro andares com a cólica renal… mas isso, agora, não interessa para nada porque, ainda que o meu percurso de vida terminasse hoje mesmo, teria sido uma mulher feliz. Uma mulher lixada, mas uma mulher muitíssimo realizada e, por isso mesmo, muitíssimo feliz!
Também não será o facto de ver o kitsch a invadir a blogosfera, nem o espírito “pidesco” e revivalista de alguns
“moralistas-cá-do-burgo” que me levará a, sequer, duvidar da minha muitíssimo legítima e genuína felicidade. Posso sentir-me lixada, estar pontualmente lixada, ficar mais do que lixada… mas, infeliz? Nunca!
Necessidade de pedir conselhos? Na! Ainda não encontrei ninguém que me conhecesse melhor do que eu mesma me conheço e os poucos conselhos que tentaram impingir-me, teriam resultado em verdadeiras catástrofes… se os tivesse seguido.
É meia noite. Estou a escrever e a assistir à Gala das Galas, na RTP. Abraço os meus amigos de quatro patas, um por um, e vou à janela da marquise acenar à D. Isa com o pano da loiça.* Volto, a correr, porque me apetece rir um pouco mais. E rio-me mesmo! Não sou, nem nunca fui, mulher de ritos e rituais. De risos, sempre fui!
Gosto das minhas rotinas, mas as celebrações colectivas não são o meu forte e prefiro uma 7up a uma garrafa de champanhe. Bebo uma Cola Zero – também marca branca, do Pingo Doce – e regozijo-me por não ter ido “fazer a festa” fora de casa. Subir, de novo, os quatro andares seria, no mínimo, uma tortura. Escrevo para as outras pessoas; não vivo “por” elas, nem ao sabor do que a elas lhes agrada.
Viva 2011!
Maria João Brito de Sousa
* Reparem no requinte e no "glamour"... foi mesmo com o pano da loiça, vulgo; rodilha...