O ESPÍRITO DA POESIA E EU
Maria João Brito de Sousa
Casámo-nos num qualquer dia de um mês em que fazia calor, na década de 90 do século passado. Já tínhamos tido algumas aventuras, não nego, e conhecíamo-nos desde os primórdios dos meus dias, mas esta união de corpo e alma, a roçar o desespero do lume da pele e a pedir-nos palavras impossíveis, só se deu nessa altura. No início – todos vocês o entenderão… - foi um estranho encantamento, um coleccionar de beijos rápidos em cópulas desajeitadas e pouco fecundas, um quebrar de rotinas na fronteira da falta de vergonha na cara. Todos repararam, ninguém perdoou mas, bem ou mal interpretado, o romance começara até que a morte nos separasse e nenhum de nós se esforçou demasiado por se fazer ouvir no julgamento sumário a que os outros nos condenaram. Ele há amores que não se podem guardar por dentro dos corpos, mesmo que, somados, os tentemos dividir… este foi um desses. O meu último grande amor, o supremo e definitivo anseio criativo.
(suponho que continue…)
Maria João Brito de Sousa